Duas notícias de relevância
foram dadas nos últimos dias, porém, analisadas de forma separadas e sem
evidenciar o nexo entre ambas e seu possível impacto negativo sobre o país. Uma
notícia apresentada é boa, a outra é ruim.
O
que foi mencionado?
A “boa” notícia é que haverá
redução na tarifa de energia elétrica, sendo tal informação fornecida no dia 6
de janeiro, em rede nacional, pela presidente Dilma Rousseff. Todos os consumidores
terão sua tarifa de energia elétrica reduzida. Para as residências, a redução
média é de 16,2%. O consumidor residencial não é o único beneficiado com a
redução da tarifa de luz. O desconto vale também para o setor produtivo, como a
indústria, podendo chegar a 28%. De acordo com o governo, o custo de
distribuição de energia é menor para a indústria.
Já a má notícia diz respeito
ao nível dos reservatórios localizados no Sudeste e no Centro-Oeste, respondendo
por 70% da capacidade de produção de energia hidrelétrica no país. O nível de
tais reservatórios já é semelhante ao verificado no período anterior ao
racionamento de energia, decretado pelo governo federal em 2001. Ainda, nos
reservatórios do Nordeste, segundo maior parque gerador de hidroeletricidade no
país, a capacidade das represas no dia 6 de janeiro era de 41,21%, bem abaixo
dos 59,33% registrados em dezembro de 2000.
“A situação é muito delicada
e pode ficar mais complicada se não voltar a chover na cabeceira dos
reservatórios”, disse o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores
de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Leite.
O uso da energia térmica
ajuda a poupar água das hidrelétricas para que seus reservatórios voltem ao
normal, mas também encarece a conta de luz. O problema é que a energia gerada
pelas térmicas – movidas a óleo, gás e carvão, por exemplo -, é mais cara, o
que acaba levado a aumento na conta de energia para os consumidores. Para cada
mês de operação das térmicas, deve ser repassado à tarifa de energia cerca de
R$ 700 milhões a mais.
Em entrevista no dia 27 de
dezembro, a presidente Dilma Rousseff afirmou ser “ridículo” dizer que o Brasil
corra risco de falta de energia.
O
que não foi mencionado?
Em primeiro lugar, cabe
mencionar que a principal finalidade do governo em reduzir a conta de energia
elétrica é possibilitar o aumento no preço dos combustíveis, como gasolina, sem
gerar impacto significativo sobre os índices de inflação.
Em segundo lugar, não
podemos deixar de considerar que em um nível crítico nos reservatórios, reduzir
a conta de luz apenas estimula a demanda por energia, o que, naturalmente,
tende a acelerar o processo de redução dos níveis dos reservatórios. Em suma,
sem que haja chuvas significativas e elevação dos níveis nos reservatórios,
maior demanda com menor preço tende a estimular o caos: racionamento em vista,
sem meio termo.
Em terceiro lugar, cabe
ressaltar que se a alternativa governamental for o uso de energia térmica, de
maior custo, a redução da tarifa não deveria se sustentar. Portanto, o
mecanismo a ser utilizado pelo governo pra cobrir a diferença será o
endividamento público. Em suma, uma boa manobra política, mas nada inteligente
do ponto de vista econômico, já que de qualquer forma o consumidor pagará pela
conta mais alta. Não existe mágica no mundo econômico, não existe almoço de
graça, nem conta de luz mais barata com processo produtivo mais caro.
Para
onde caminhamos?
Afinal de contas, é
sustentável a redução das tarifas de energia no país?
Se de fato não for revertido
o processo de queda nos níveis dos reservatórios, muito possivelmente não será
possível o governo sustentar por muito tempo o uso de energia térmica. Assim,
desenha-se o cenário de racionamento de energia.
Havendo reversão no processo
de queda nos níveis dos reservatórios, porém de modo que ainda seja necessário
o uso de energia térmica, o custo produtivo médio deverá crescer no país.
Novamente, pelas leis econômicas, sabe-se que processo produtivo mais custoso
não combina com redução de preços: a diferença necessariamente terá que ser
paga por alguém. E já sabemos quem...
O interessante é que ao
utilizar endividamento para permitir a redução na tarifa, o governo apenas
maquia um fenômeno não possível naturalmente. E ainda pior: se você for um
usuário de energia que consome menos do que a média das unidades do Brasil,
estará subsidiando o consumo dos que mais utilizam energia. Melhor nesse caso
não maquiar a redução na conta de luz, visto que neste caso, a conta é
diretamente proporcional ao uso, e não subsidiada por aqueles que menos a utilizam.
Fontes:
O aumento da gasolina já foi.
ResponderExcluir