30 janeiro 2013

Não existe energia gratuita...




Duas notícias de relevância foram dadas nos últimos dias, porém, analisadas de forma separadas e sem evidenciar o nexo entre ambas e seu possível impacto negativo sobre o país. Uma notícia apresentada é boa, a outra é ruim.

O que foi mencionado?

A “boa” notícia é que haverá redução na tarifa de energia elétrica, sendo tal informação fornecida no dia 6 de janeiro, em rede nacional, pela presidente Dilma Rousseff. Todos os consumidores terão sua tarifa de energia elétrica reduzida. Para as residências, a redução média é de 16,2%. O consumidor residencial não é o único beneficiado com a redução da tarifa de luz. O desconto vale também para o setor produtivo, como a indústria, podendo chegar a 28%. De acordo com o governo, o custo de distribuição de energia é menor para a indústria.
Já a má notícia diz respeito ao nível dos reservatórios localizados no Sudeste e no Centro-Oeste, respondendo por 70% da capacidade de produção de energia hidrelétrica no país. O nível de tais reservatórios já é semelhante ao verificado no período anterior ao racionamento de energia, decretado pelo governo federal em 2001. Ainda, nos reservatórios do Nordeste, segundo maior parque gerador de hidroeletricidade no país, a capacidade das represas no dia 6 de janeiro era de 41,21%, bem abaixo dos 59,33% registrados em dezembro de 2000.
“A situação é muito delicada e pode ficar mais complicada se não voltar a chover na cabeceira dos reservatórios”, disse o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Leite.
O uso da energia térmica ajuda a poupar água das hidrelétricas para que seus reservatórios voltem ao normal, mas também encarece a conta de luz. O problema é que a energia gerada pelas térmicas – movidas a óleo, gás e carvão, por exemplo -, é mais cara, o que acaba levado a aumento na conta de energia para os consumidores. Para cada mês de operação das térmicas, deve ser repassado à tarifa de energia cerca de R$ 700 milhões a mais.
Em entrevista no dia 27 de dezembro, a presidente Dilma Rousseff afirmou ser “ridículo” dizer que o Brasil corra risco de falta de energia.

O que não foi mencionado?

Em primeiro lugar, cabe mencionar que a principal finalidade do governo em reduzir a conta de energia elétrica é possibilitar o aumento no preço dos combustíveis, como gasolina, sem gerar impacto significativo sobre os índices de inflação.
Em segundo lugar, não podemos deixar de considerar que em um nível crítico nos reservatórios, reduzir a conta de luz apenas estimula a demanda por energia, o que, naturalmente, tende a acelerar o processo de redução dos níveis dos reservatórios. Em suma, sem que haja chuvas significativas e elevação dos níveis nos reservatórios, maior demanda com menor preço tende a estimular o caos: racionamento em vista, sem meio termo.
Em terceiro lugar, cabe ressaltar que se a alternativa governamental for o uso de energia térmica, de maior custo, a redução da tarifa não deveria se sustentar. Portanto, o mecanismo a ser utilizado pelo governo pra cobrir a diferença será o endividamento público. Em suma, uma boa manobra política, mas nada inteligente do ponto de vista econômico, já que de qualquer forma o consumidor pagará pela conta mais alta. Não existe mágica no mundo econômico, não existe almoço de graça, nem conta de luz mais barata com processo produtivo mais caro.

Para onde caminhamos?

Afinal de contas, é sustentável a redução das tarifas de energia no país?
Se de fato não for revertido o processo de queda nos níveis dos reservatórios, muito possivelmente não será possível o governo sustentar por muito tempo o uso de energia térmica. Assim, desenha-se o cenário de racionamento de energia.
Havendo reversão no processo de queda nos níveis dos reservatórios, porém de modo que ainda seja necessário o uso de energia térmica, o custo produtivo médio deverá crescer no país. Novamente, pelas leis econômicas, sabe-se que processo produtivo mais custoso não combina com redução de preços: a diferença necessariamente terá que ser paga por alguém. E já sabemos quem...
O interessante é que ao utilizar endividamento para permitir a redução na tarifa, o governo apenas maquia um fenômeno não possível naturalmente. E ainda pior: se você for um usuário de energia que consome menos do que a média das unidades do Brasil, estará subsidiando o consumo dos que mais utilizam energia. Melhor nesse caso não maquiar a redução na conta de luz, visto que neste caso, a conta é diretamente proporcional ao uso, e não subsidiada por aqueles que menos a utilizam.

Fontes: