10 dezembro 2012

Nota de repúdio ao mercantilismo – Em pleno século XXI



Em pleno século XXI, os economistas não conseguem comunicar algumas ideias básicas da economia para o público em geral. Um caso peculiar, e que merece referência, é o comércio internacional, como brevemente explicarei.

A razão para esta falha é que a maioria dos economistas tem pouco interesse em falar sobre economia para os não economistas. Há exceções, como é atualmente no Brasil o professor Ubiratan Iorio e como foi no passado o professor Milton Friedman, que explicou claramente os efeitos econômicos da inflação e do controle de preços. Mas exceções como eles são raras.

Pior ainda, alguns comentaristas econômicos se esforçam para piorar o desentendimento atual sobre o funcionamento dos mercados. Muitos deles apenas reforçam as falácias correntes.

Não há falácia econômica tão difundida como o a de que um país perde quando os cidadãos compram bens e serviços de estrangeiros, ou seja, quando praticam comércio internacional (livre comércio). Essa ideia mercantilista, combatida e já demonstrada ser errada há séculos, ainda existe. O que se argumenta, nesse sentido, é que os brasileiros estão gastando reais no exterior ou com ele. Então, concluem que empregos estão sendo "destruídos", e que a economia brasileira está sendo prejudicada.

O bom economista deve corrigir este equívoco, explicando que todos os recursos monetários ganhos pelos estrangeiros que vendem para os brasileiros, inevitavelmente, retornam ao Brasil. Estrangeiros usam esses recursos para comprar bens brasileiros ou para investir na economia brasileira (o recurso jamais some do sistema econômico, ele não é desperdiçado).

Todos os reais que os brasileiros gastam em importações retornam ao país, tão certo como retornariam se os brasileiros tivessem comprado o produto em solo nacional. Comparado à situação em que o governo brasileiro impede o comércio dos brasileiros com os estrangeiros, esses reais retornam com maior efeito positivo sobre a economia do país. A razão é que o comércio permite que nós brasileiros possamos comprar do exterior os produtos que os estrangeiros oferecem para nós a preços mais baixos do que nos custaria para fazer esses mesmos produtos por aqui. Com efeito, há um ganho líquido. 

Exemplifico: Imagine que para produzir um relógio na Suiça custe X, e que produzir o mesmo relógio no Brasil custe 2X. Ao adquirirmos o bem dos suíços, gastamos X, e ainda há uma sobra na economia brasileira de X, que poderá ser gasta com outro bem. Com efeito, a sociedade brasileira na realidade enriquece ao praticar o comércio de relógio, visto que agora há no país um relógio e outro bem, digamos, uma luneta. Tudo isso apenas é possibilitado através do comércio, em que bens menos custosos são adquiridos e reduzem a restrição orçamentária da população, possibilitando maior consumo.

Os economistas há muito tempo compreenderam os ganhos mútuos do comércio internacional. Contudo, ainda há aqueles que se esforçam para gerar desentendimento sobre o comércio internacional.

Considere, por exemplo, uma frase típica (e tipicamente mercantilista): "Muitos reais são gastos em importações que não retornam para comprar as exportações dos Brasil - a diferença entre as importações e exportações foi a perda do Brasil”. Quem fala isso está falando besteira. Simples assim.

Os reais que os estrangeiros não gastam com as exportações do Brasil não são "a perca comercial do país." Pelo contrário, esses reais são reinvestidos no Brasil e, portanto, eles criam a demanda por bens e serviços do Brasil não menos do que aquela que os reais criariam se o recurso fosse utilizado para comprar as exportações do Brasil.

Os reais que os japoneses investem em títulos do Tesouro Nacional brasileiro se tornam a demanda por bens e serviços do Brasil - demanda expressa pelos gastos do Tesouro ou por particulares que vendem títulos para o Japão e que, então, gastam na economia os reais que ganham nas vendas dos títulos. Da mesma forma, os reais que a japonesa Sumimoto investem na construção de fábricas no Paraná tornam-se a demanda por bens e serviços do Brasil - demanda para os gastos com materiais de construção e os operários da construção civil.

Portanto, reflita sobre o argumento mercantilista. Não há motivo em pleno século XXI para se argumentar que importações prejudicam um país.

22 outubro 2012

Breves considerações sobre o QE3





Com a introdução de outro programa para a compra de MBS (forma de securitização), da ordem de US$ 40 bilhões por mês, o FOMC está apoiando a política federal de longa data de ajuda aos setores de construção civil e de hipotecas. Foram exatamente tais políticas que foram as maiores responsáveis pela crise financeira, que começou no setor imobiliário. Por que o FED quer incentivar ainda mais essas políticas federais desastrosas? Diz-se que o FED é apolítico, mas esta decisão está diretamente apoiando a continuação da atuação da Fannie Mae e da Freddie Mac. Esta ação não é política monetária, mas política fiscal, concessão de crédito a uma indústria favorecida. Esta política é o capitalismo de compadrio, sendo praticada pelo governo federal e pelo FED.

As decisão do FOMC cria mais um problema para o FED. Se o crescimento do emprego vingar, ou se a inflação aumentar considervalmente antes de uma reunião do FOMC, o mercado vai se perguntar se o FED irá parar as compras de MBS. O FED se recusou a oferecer qualquer orientação genuína a respeito de quando a política vai acabar. Por outro lado, se o crescimento do emprego continuar fraco, os participantes do mercado vão se perguntar antes de cada reunião do FOMC se o Fed vai fazer mais, ou introduzir alguma nova política e inexperiente. Em suma, só aumentam as incertezas.

Na sua conferência de imprensa de lançamento do QE3, o presidente do FED, Ben Bernanke apropriadamente enfatizou a necessidade de políticas fiscais para estabilizar as finanças federais. No entanto, ele mesmo está prometendo que o FED pode contribuir para derrubar o desemprego. Essa promessa reduz a pressão de ação sobre o Congresso. Então pergunta-se: Por que o Congresso irá lidar com as difíceis questões políticas atuais se o FED se compromete a fazer o trabalho?

Ao que parece, a situação que o FED está criando é absolutamente insustentável e trará consequências ainda mais dolorosas do que as já criadas.


 


14 setembro 2012

Ausência de recuperação no mercado de trabalho americano


Concretamente, a situação do mercado de trabalho americano é lamentável.

A divulgação dos dados do mercado de trabalho para o mês de junho marca o terceiro aniversário do fim oficial da recessão (junho de 2009).
 
Naturalmente, tem-se assim uma boa oportunidade para se verificar a saúde do mercado de trabalho nos EUA. Utilizou-se um dos métodos mais simples de análise, porém eficaz: a razão emprego/população. Em essência, este indicador nos diz qual parcela da população em idade ativa (16 anos de idade e acima) tem um emprego.

Quando a relação sobe, as coisas estão melhorando no mercado de trabalho. Quando isso não acontece, o mercado de trabalho não está se recuperando.


Após verificar o gráfico acima, pergunta-se: Que tipo de recuperação no mercado de trabalho tem ocorrido nos últimos três anos? Como o gráfico mostra, a resposta é simples: nenhuma.

O crescimento do emprego não tem sido forte o suficiente para suportar uma população crescente. A relação emprego/população foi de 59,4% há três anos e atualmente é de apenas 58,6%.