01 abril 2012

Indagações politicamente incorretas sobre a responsabilidade social – parte 2


Na primeira parte desse artigo, foi abordada a ideia de responsabilidade social e demonstrado um lado oculto dela: toda atividade econômica é socialmente responsável, por definição. Agora, irei apontar outro lado oculto: as implicações econômicas da responsabilidade social.

A responsabilidade social tem um apelo muito forte. As empresas usam essa estratégia e mostram o lado positivo de sua prática: há muitas coisas boas e notórias em se praticar a responsabilidade social. Esse é o lado que se vê. Mas, infelizmente, nem tudo é positivo. Como ensina o economista Henry Hazlitt, “a arte da economia está em considerar não só os efeitos imediatos de qualquer ato ou política, mas, também, os mais remotos”. Nesse artigo, irei me concentrar nestes efeitos, os mais remotos. Por fim, irei sugerir uma forma de aperfeiçoar tal prática.

A economia é extremamente encadeada, e desenrolar os eventos que surgem dessa prática não é tão fácil quanto parece. Há vários efeitos de cunho microeconômico, macroeconômico e que tangem os incentivos.

Se uma empresa está destinando parte de suas receitas/lucros para seus fins de responsabilidade social, é de se esperar que, com tudo o mais constante, a empresa está reduzindo seu lucro. Naturalmente, a empresa terá menos recursos disponíveis para realizar investimentos e para distribuir a seus acionistas.

No que tange ao acionista, os efeitos mais perceptíveis são:

Com menos recursos em mão, ele estará usufruindo menor bem-estar. Haverá menos renda disponível, sendo que essa renda poderia ser utilizada em partes para elevar seu consumo e/ou sua poupança.

A renda, sempre está desempenhando um papel na atividade econômica. Se essa renda fosse utilizada em consumo, inicialmente haveria maior arrecadação tributária, bem como uma demanda por trabalho, e derivando esta, haveria salário, consumo e/ou poupança e mais tributos. Por outro lado, se essa renda fosse utilizada para formação de poupança, estaria no sistema financeiro, e assim, sendo utilizada como oferta de fundos. Naturalmente, a demanda por essa poupança faria com que ela pudesse ser utilizada para investimento e/ou consumo. O lado do consumo já foi explicado. Sendo utilizado para investimento, estaria elevando o lado da oferta dessa economia, gerando novos bens e com tudo o mais constante, exercendo pressão sobre queda de preços na economia. Além disso, estaria elevando o estoque de capital dessa empresa que demandou o fundo, tornando seus ‘colaboradores’ mais produtivos, o que implica em mais bem remunerados. Ainda que aquela renda inicial fosse estocada em um colchão, o imediato sumiço desse recurso propiciaria uma pressão para queda nos preços, o que tenderia a restabelecer o equilíbrio de mercado. Um tanto quanto complexo, não?

Estes são os efeitos negativos diretos propiciados pela redução nas receitas/lucros da empresa ao se praticar a responsabilidade social. Contudo, a percepção de que está tendo menores taxas de lucro, gera efeito indireto no acionista: desestímulo ao empreendedorismo e ao investimento. O que também induz a uma série de efeitos derivados.

No que diz respeito ao investimento, alguns efeitos negativos proporcionados pela redução nas receitas/lucros da empresa ao se praticar a responsabilidade social são destacados.

Havendo menor disponibilidade de recursos para investimentos, surgem diversos efeitos encadeados. Com menos recursos investidos, há uma redução no ritmo de acumulação de capital dessa empresa/economia. Naturalmente, menos capital por trabalhador os torna menos produtivos, havendo um impacto negativo nos salários, ou seja, há menos renda, menor consumo, menor arrecadação tributária, e consequentemente menor bem-estar econômico. Aliado a essa séries de efeitos negativos, menos recursos investidos significa que o quantum de investimento foi reduzido. Ou seja, o lado da oferta – quantia de bens gerados nessa economia - é prejudicado.

Concluindo, percebe-se que a prática pura da responsabilidade social possui diversos efeitos negativos – como ressaltado no artigo – além de diversos efeitos positivos.

Cabe a pergunta: O que pode ser feito para reduzir o lado negativo dessa prática? Creio que a boa prática social se concentra na elevação do capital humano. O que quero dizer é que os esforços da empresa devem ser concentrados em melhorar a qualificação/produtividade dos beneficiários dessa prática. Não basta, por exemplo, dar comida e quadras de futebol a estes. Pelo contrário, isso apenas posterga o problema que alicerça a pobreza – a baixa qualificação/exclusão. Alternativa é a qualificar a pessoa humana, instruí-la. A instrução pode gerar uma oportunidade de trabalho a essa pessoa, e assim, tirá-la da situação de miséria. É um investimento de fato, pois gera resultados positivos em longo prazo. Diferente da simples distribuição de um lanche e uma quadra de futebol, pois nesse caso, deve ser considerada despesa sob a ótica social – um recurso escasso, com vários destinos alternativos positivos, foi utilizado pessimamente. Veja que neste caso, o indivíduo e a economia de forma alguma se tornam melhores, não havendo possibilidade de sustentar um padrão de vida superior ao beneficiário no longo prazo. Quando ele sair do programa, retorna a sua situação inicial.

Cabe a sugestão às empresas que praticam responsabilidade social: apliquem seus esforços na qualificação dos beneficiários. Eis uma alternativa para melhorar o padrão de vida destes no longo prazo. Isso não é clientelismo e charlatanismo. É a boa prática social!


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