20 dezembro 2011

O cálculo econômico sob o regime socialista

Conforme demonstrou o economista Ludwig von Mises, em sua obra Socialism (1922), não há possibilidade cálculo econômico em um regime socialista. Essa análise por parte do economista gerou uma discussão considerável na Europa, sendo que o autor travou um debate com o polonês socialista Oskar Lange, um ferrenho defensor deste sistema.
Os pontos principais da argumentação de Mises são esses:

1. A liberdade econômica (alicerçada na propriedade privada) é condição necessária para a existência da economia de mercado.
2. A economia de mercado é condição necessária para a formação de preços.
3. A formação de preços é condição necessária para se realizar o cálculo econômico.
4. Logo, sem liberdade econômica (propriedade privada), não há cálculo econômico.

Assim, em regimes socialistas, o que há de fato são ‘pseudo-preços’ números arbitrariamente estabelecidos por autoridades de planejamento econômico, que tentam substituir a função dos preços, embora certamente ineficientes.
Sem o cálculo econômico, não é possível comparar a importância daquilo produzido com o seu custo de oportunidade, ou seja, não é possível realizar cálculo econômico.
A principal implicação da ausência de propriedade privada – e assim de pseudo-preços - é que não permite o cálculo econômico, com efeito, todo o sistema produtivo é guiado às cegas, sendo que o objetivo econômico de propiciar bem-estar e atender as legítimas demandas do mercado jamais é atendido.
O fato é que a complexidade do sistema produtivo atual, não pode ser mantida na ausência de um sistema de preços de mercado. Assim, a abolição da propriedade privada e dos mercados gera uma série de ineficiências econômicas e a má alocação de recursos, que como mencionado, não consegue atingir o objetivo da atividade econômica - propiciar bem-estar e atender as legítimas demandas do mercado (consumidores).
Isso pode parecer um tanto abstrato ou um tanto falacioso, para muitos que tem inclinação para o socialismo. Mas o fato é esse: em regimes socialistas, os consumidores jamais conseguirão mover o sistema produtivo. A ausência de preços não sinaliza quais são os recursos mais escassos na sociedade, e para onde os investimentos deveriam ser direcionados, de modo a atender as legítimas demandas de consumo por parte dos consumidores.
Seria cômico se não fosse triste, e pior, real. Mas essa é a realidade: Carteiras de racionamento para comida e papel higiênico em Cuba, fome na Ucrânia, AIDS na Albânia por falta de medicamentos, falta de comida nas prateleiras da Venezuela.
Se a boa teoria econômica fosse seguida...
Pior de tudo é ver que esse erro já foi repetido, continua sendo repetido em algumas partes do mundo, e será repetido futuramente.
Como diz Robert Fisk, “a única lição que a história nos ensina é que nada aprendemos com a história".

5 comentários:

  1. E O QUE ME IMPORTA ISSO?

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  2. Segue abaixo algumas problemáticas:
    - a desigual distribuição de terras: fator inerentemente injusto, o qual é reproduzido e legitimado em decorrência dos interesses da classe dominante - burgueses;
    - a má distribuição da renda: fator de desigualdade social, o qual está alicerçado na exploração da força de trabalho do proletário;
    - no sistema capitalista é produzido alimento para todas as pessoas, olha que coisa boa. Contudo, grande parte da população mundial passa fome.
    A classe burguesa já foi revolucionária, lutou pela liberdade, igualdade e justiça social com o apoio dos trabalhadores e camponeses, extinguindo a exploração do antigo regime.
    Explicarei algumas partes da teoria da curvatura da vara. Não sei se é conhecida. Ela foi elaborada por Lênin (SAVIANI, 1983). Segue abaixo a primeira tese da teoria, a qual tem um caráter político e educativo:
    "do caráter revolucionário da Pedagogia da essência e do caráter reacionário da pedagogia da existência"
    Existem duas concepções pedagógicas arraigadas na sociedade atual: primeira, a Pedagogias Tradicional, cuja concepção filosófica é essencialista; segunda, a pedagogia Nova, cuja concepção filosófica privilegia a existência sobre a essência (SAVIANI, 1983 p. 42).
    A questão do homem livre
    Na antiguidade, a filosofia da essência concebe o ser humano como um sujeito livre; "o escravo não era ser humano, consequentemente a essência humana só era realizada nos homens livres" (SAVIANI, 1983 p. 42).
    Na idade média, o essencialismo sofre influência e articula-se com as ideias da criação divina. Portanto, há uma articulação entre essência humana e criação divina. Nesse quadro, a essência humana era predeterminada por uma força divina, assim como o destino das pessoas; pode-se identificar ou explicar a diferenciação entre senhores e servos. Desse modo, a essência humana justifica as diferenças.
    Na modernidade, a burguesia, classe revolucionária, vai advogar a filosofia da essência como condição e argumento de defesa da igualdade, liberdade e justiça, acionando críticas à nobreza e ao clero.
    "a dominação da nobreza e do clero era uma dominação não-natural, não-essencial, mas social e acidental, portanto, histórica" (SAVIANI, 1983 p. 43)
    Nesse sentido, vai nascendo uma pedagogia da essência na defesa da igualdade essencial dos homens.
    Esse raciocínio significa colocar diante da nobreza e do clero a ideia de que os privilégios de que eles usufruíam não eram naturais e muito menos divinos, mas eram históricos - sociais. Enquanto social, configuravam injustiças que não poderiam continuar existindo. Esse era o posicionamento da classe revolucionária burguesa.
    A burguesia vai reformar a sociedade, substituindo uma sociedade do "direito natural" por uma sociedade contratual.
    Assim, fomos organizados da seguinte forma: o homem é essencialmente livre; essa liberdade se funda na igualdade essencial dos homens. Com isso, cada indivíduo pode dispor de sua liberdade, mediante contrato (SAVIANI, 1983)
    A mudança de interesse
    Quando a burguesia toma o poder, aí os interesses mudam. Ela já não mais caminha na linha do desenvolvimento histórico, mas contra a história. É nesse momento que a pedagogia da essência não serve mais aos interesses burgueses.
    Em substituição à filosofia da essência, a burguesia vai propor uma filosofia e pedagogia da existência. Nesse novo quadro, os homens são concebidos como seres diferentes e tais diferenças devem ser respeitadas. Assim, existem aqueles que são mais capazes do que os outros e por isso eles tem mais; existem pessoas que aprendem mais lentos por isso tem melhores notas. O contexto social é negado pela burguesia e ai está a contradição social, ai está a injustiça novamente.
    Qual era mesmo a primeira tese?
    "do caráter revolucionário da pedagogia da essência, e do caráter reacionário da pedagogia da existência"
    Com efeito, a filosofia burguesa assume esse caráter reacionário.

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  3. Em primeiro lugar, você confunde igualdade com isonomia.

    Segundo, você em momento algum refutou o texto. O interessante do cálculo econômico é que ele permite direcionar a produção segundo as legítimas necessidades da sociedade. É justamente porque aqui prevalece o cálculo econômico que quando vamos ao mercado temos a possibilidade, por exemplo, comprar papel higiênico, ao contrário do que ocorre em países de economia dirigida, como vergonhosamente ocorre em Cuba. O que é mais importante: um regime que canta a igualdade mas só produz misérias ou um regime desigual que fornece qualidade de vida crescente a muitos?

    Leituras recomendáveis: Bastiat e Tocqueville.

    Ludwig von Mises demonstrou a inviabilidade econômica de regimes socialistas. Todas as vezes que foi tentado fracassou vergonhosamente, e assim será, visto que nunca um sistema será orientado para as legítimas demandas da população, visto que o sistema de preços não funciona e não consegue direcionar a produção.

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  4. Bem estar material, segundo LUDWIG VON MISES:

    O liberalismo é uma doutrina inteiramente voltada para a conduta dos homens neste mundo. Em última análise, a nada visa senão ao progresso do bem-estar material exterior do homem e não se refere às necessidades interiores, espirituais e metafísicas. Não promete felicidade e contentamento aos homens, mas, tão somente, a maior satisfação possível de todos os desejos suscitados pelas coisas e pelo mundo exterior.

    Frequentemente, o liberalismo tem sido censurado por sua atitude puramente externa e materialista, que privilegia o que é terreno e transitório. A vida do homem, como se diz, não consiste em comer e beber. Há necessidades superiores e mais importantes do que o alimento e a bebida, o abrigo e a roupa. Nem mesmo as maiores riquezas terrenas podem dar felicidade ao homem. Deixam o ser interior, a alma, insatisfeita e vazia. O mais sério erro do liberalismo é que nada tem a oferecer às aspirações mais profundas e mais nobres do homem.

    Mas os críticos que exploram este vazio mostram apenas que possuem um conceito muito imperfeito e materialista dessas necessidades superiores e mais nobres. As políticas sociais, com os meios de que dispõem, podem tornar os homens ricos ou pobres, mas nunca conseguirá torná-los felizes ou satisfazer seus anseios íntimos. Aqui falham todos os expedientes externos. Tudo o que as políticas sociais podem fazer é remover as causas externas da dor e do sofrimento. Podem promover um sistema que alimente o faminto, vista o nu e abrigue o sem-teto. Felicidade e contentamento não dependem do alimento, da roupa e do abrigo, mas, sobretudo, do sonho que se acalenta no íntimo. Não é pelo desdém aos bens espirituais que o liberalismo se concentra, exclusivamente, no bem-estar material do homem, mas pela convicção de que o que é mais alto e profundo no homem não pode ser tocado por qualquer tipo de regulação externa. O liberalismo busca produzir apenas o bem-estar exterior, porque sabe que as riquezas interiores, espirituais, não podem atingir o homem de fora, mas somente de dentro, de seu próprio coração. O liberalismo não visa a criar qualquer outra coisa, a não ser as precondições externas para o desenvolvimento da vida interior. Não deve haver dúvida de que o indivíduo relativamente próspero do século XX pode satisfazer suas necessidades espirituais mais prontamente do que, digamos, o indivíduo do século X, que não podia livrar-se nem da ansiedade de viver com o pouco que tinha para sua sobrevivência, nem dos perigos que o ameaçavam, provenientes de seus inimigos.

    Sem dúvida, a todos aqueles que, como seguidores de muitas seitas asiáticas e cristãs medievais, aceitam a doutrina do completo ascetismo, e àqueles que tomam como ideal da vida humana, a pobreza e a liberdade dos desejos, próprios dos pássaros da floresta e dos peixes do mar, não podemos retrucar, quando censuram o liberalismo por sua atitude materialista. Podemos tão somente, pedir-lhes que deixem desimpedido nosso caminho, assim como não os impedimos de ganharem o céu a seu modo. Que se fechem em suas celas, longe dos homens e do mundo, em paz.

    A esmagadora maioria de nossos contemporâneos não consegue compreender o ideal ascético. Mas, uma vez que alguém rejeita o princípio da conduta de vida ascética, não se pode reprovar o liberalismo por visar ao bem-estar material.

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  5. Ao Anônimo do dia 18 Jan: consulte os níveis de discordância de Graham (http://www.paulgraham.com/disagree.html). Sua argumentação é paralela ao texto e em momento algum desenvolve a temática proposta. Repare que o tema trata da questão pragmática da tomada de decisão frente à escassez, que torna-se enfraquecida diante de um sistema que inviabiliza a mensuração dos benefícios em retorno.

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