Comumente, ouvimos que a taxa de câmbio é um
importante instrumento para se promover o crescimento econômico de um país.
O ministro da Fazendo, Guido Mantega[1],
recentemente afirmou que “o dólar alto
beneficia a economia brasileira porque dá mais competitividade aos produtores.
Significa que a indústria brasileira pode competir melhor com os importados,
que ficam mais caros, e pode exportar mais barato para o exterior. Portanto,
não preocupa”.
Rogoff e Reinhart (2004)[2]
mostram que o Brasil perde apenas do Congo entre os países com as moedas que
mais se desvalorizaram no mundo entre 1970 e 1991. Nesse sentido, há algumas questões
pertinentes:
1. Isso tornou o Congo ou o Brasil nações
industriais e competitivas?
2. Além disso, como se justifica a perda de
participação relativa da indústria no PIB nesse mesmo período?
3. Como nações ricas e de câmbio apreciado, como
a Alemanha e os Estados Unidos, conseguem ter participações elevadas entre os
países exportadores do mundo?
No jogo da desvalorização (ou depreciação, se
assim quiserem), nem todos ganham. Viajar para o exterior é um sonho para
muitos, e que contribui de várias formas que não podem ser mensuradas
monetariamente para a pessoa e o país ao qual habita.
Nesse artigo irei tratar do setor do turismo internacional
no Brasil, e mostrar como um câmbio desvalorizado prejudica aqueles que querem
e/ou necessitam viajar para outros países.
Taxa de câmbio - R$ / US$ - comercial
A Taxa de câmbio é a taxa utilizada nas
transações oficiais (exportações, importações e transações financeiras)
registradas no Banco Central do Brasil.
A taxa de câmbio diz quanto está valendo o
real, frente ao dólar. Uma taxa de câmbio mais baixa (valorizada), diz que a
moeda brasileira está se fortalecendo frente ao dólar. Ou seja, com um mesmo
montante de reais (digamos, R$1000), compram-se mais mercadorias registradas em
dólar.
E como isso afeta o setor de turismo no
Brasil?
Uma taxa de câmbio valorizada significa que a
moeda brasileira está se fortalecendo, ou seja, viajar para o exterior está
ficando cada vez mais barato!
Vejamos o comportamento da taxa de câmbio no
Brasil durante o período de 1980 a 2011:
Fonte: IPEADATA.
Figura 1 - Taxa de câmbio (comercial / venda) no Brasil durante o
período de 1980 a 2011.
Ressalta-se
que desde 2003 o real tem se valorizado persistentemente frente ao dólar. Ou
seja: viajar para o exterior está ficando cada vez mais acessível!
Vamos
conferir os gastos trimestrais dos brasileiros no exterior nos últimos anos,
desde 1980 até 2011:
Fonte: IPEADATA.
Figura 2 – Gastos trimestrais dos brasileiros no exterior (milhões
de US$) no período de 1980 até 2011.
Percebe-se que a partir do momento em que
houve um ciclo contínuo de queda na taxa de câmbio, a partir de 2003, coincidiu
com o ciclo contínuo de alta nos gastos internacionais por parte dos
brasileiros. Ou seja, real valorizado anda lado a lado com os gastos em
internacionais dos brasileiros.
Através
de análise econométrica, foi constatado que, para o período de 1995 a 2011, a
elasticidade renda do setor de viagens internancionais no Brasil é de -2,02, ou
seja, para cada 1% de queda na taxa de câmbio (real valorizando), ocorre um
aumento de 2% nos gastos dos brasileiros com viagens internacionais.
No caso
brasileiro, concretamente a disparidade das taxas de juros prevalecentes entre
o mercado interno e o mercado externo exerce influência sobre a taxa de câmbio.
Especificamente, após criação de uma série que considera a diferença entre a
taxa de juros SELIC e a taxa de juros referencial internacional (FED funds Rate), e posterior contraste com a taxa de câmbio média do mês para
compra, tem-se a figura 3.
* Para todas as variáveis, base janeiro de 2000=1
Fonte: IPEADATA.
Figura 3 – Diferenças mensais entre taxas de juros SELIC e a taxa de juros FED funds Rate e a taxa de câmbio média
mensal para compra.
Há uma clara relação positiva entre as
variáveis, ou seja, a discrepância entre taxas de juros exercem influência altista
na formação da taxa de câmbio no Brasil.
Quanto às projeções, para o dólar voltar a se
fortalecer consideravelmente frente ao real (acima de R$2,00), é necessário que
a diferença entre as taxas de juros no Brasil e no mercado internacional
continue caindo. Ou também, uma grande crise econômica ou alguma medida
catastrófica do governo, o que é improvável em um cenário de curto e médio
prazo.
Com
o real valorizado, o setor de turismo internacional é um mercado em expansão
contínua no Brasil!
Naturalmente,
com o real desvalorizado, o setor de turismo internacional é um mercado em retração
no Brasil!
OBS: Esses levantamentos são fruto de uma pesquisa que realizei para uma agência de turismo. Naturalmente, quando falo que o setor de turismo internacional é um mercado em expansão no Brasil, eu estou me referindo ao mercado que a agência explora - venda de roteiros internacionais.
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